setembro 17, 2008

CHINA - Clube.de Investimentos

A China é o assunto do momento. É a estrela dos BRICs (os quatro principais países emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China) e está na moda. Com o advento dos Jogos Olímpicos de Pequim e a majestosa cerimônia de abertura celebrada no dia oito, a China tem recebido ainda maior exposição midiática. Tamanha exposição, no entanto, suscita novo debate sobre o regime de partido único, que completará 60 anos em 2009, e o modelo capitalista de desenvolvimento econômico que vem promovendo desde o final dos anos 70. Receita do sucesso chinês, a díade crescimento acelerado–autoritarismo começa a mostrar também um outro lado – poluição, desigualdade crescente, desrespeito aos direitos humanos – e pode ter alto preço a ser pago não só pelos chineses, mas também pela comunidade internacional.

O Partido Comunista Chinês (PCC) renunciou ao comunismo após a morte de Mao Tse-Tung. Mais especificamente quando em 1978 Deng Xiaoping, que passara quase 10 anos expurgado do partido durante a Revolução Cultural e então sucessor de Mao, pronunciou a famosa frase: “Enriquecer é glorioso”. Hoje a China tem mais de 350.000 milionários e é um dos principais destinos de investimento estrangeiro direto no mundo. Tem forte presença na África através de massivas injeções de capital e linhas de financiamento: o montante de empréstimos e linhas de crédito em 2006 estimava-se em US$ 19 bilhões. Com seus fundos soberanos de investimento faz bombásticas compras de participações em grandes bancos e petrolíferas; detendo, por exemplo, 1% da britânica British Petroleum (BP), a segunda maior petrolífera do mundo. Está claro que a China vem se perfilando como a próxima superpotência. Mas a que preço? Em termos absolutos a China é o maior emissor mundial de CO2 (a emissão per capita, no entanto, é cinco vezes menor que a dos Estados Unidos) e tem o carvão como sua principal fonte de energia, afetando severamente a qualidade da água e do ar. Estima-se, por exemplo, que pouco mais da metade do esgoto seja tratado; um terço de seus rios é considerado altamente poluído. Em 2008 ficou em 108º lugar no ranking do
Índice de Desempenho Ambiental (Brasil, 34º; Estados Unidos, 39º). O aparente descaso com o meio-ambiente é ainda mais preocupante em vista do suposto objetivo do governo de duplicar o PIB per capita até 2020. Há recursos naturais para tanto? Ainda, é cabível perguntar: serão a poluição, as condições precárias de trabalho, a crescente desigualdade, e o desrespeito aos direitos humanos o preço a pagar pelo crescimento acelerado? Vale ressaltar que não se trata de querer administrar à China uma transição democrática da noite para o dia, nem de tentar deter o surgimento de uma nova superpotência por medo ou inveja (até porque a estas alturas já ficou claro que isto não será possível). Trata-se de alertar para o fato de que as mazelas do crescimento desenfreado, presentes na maioria dos países, emergentes ou não, mas exacerbadas na China e por isso aqui merecedoras de atenção especial, precisam ser abordadas de forma global, contundente e imediata. Novos acordos internacionais não podem esperar.

Deve-se aprender do êxito econômico da China, assim como de seus erros e insucessos na questão da sustentabilidade. A pressão internacional por mudanças mais significativas na China com respeito à poluição e aos direitos humanos ainda é pequena e precisa continuar. Dentro do país há maior abertura e um crescente movimento intelectual. Mas a foto de Mao permanece pendurada na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), palco dos protestos de 1989, para lembrar que críticas não são bem-vindas em Pequim.


Felipe Nsair Martiningui
25 anos
Analista de Exportação - Randon Implementos
MSN:
nsair@hotmail.com

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